domingo, 2 de outubro de 2011

102 – Ray Charles – What I’d say? (1959)

Mais um clássico, What I’d say foi composta por Ray Charles. Gravada em 18 de Fevereiro de 1958 e lançada em Julho de 1959, pela Atlantic Records. Foi produzida pelo lendário Jerry Wexler, um dos sócios da Atlantic.  
 
Surgiu a partir de uma improvisação, em uma noite do fim de 1958, quando Ray e sua orquestra e cantoras de backing vocal haviam acabado todo o setlist em um show e ainda tinham mais tempo sobrando. Começou a repetir a musica em todos os shows e a galera gostava demais e Ray Charles ficou tão entusiasmado que resolveu grava-la.

Essa foi a primeira musica de Ray Charles a chegar nos charts pops, apesar de já ter tido muitos hits nos charts de rhythm and blues. E ao mesmo tempo, criava um estilo que era um estilo dentro do rhythm and blues, o chamado Soul Music. Em What I’d say, ele unia todos os elementos do Soul, elementos esses que ele vinha desenvolvendo desde a gravação de I got a Woman, de 1955.

A música mistura uma influência de Gospel com uma implícita conotação sexual, que fez a canção se tornar muito popular e ao mesmo tempo, bastante controversa, para os públicos branco e negro. Deu a Ray o seu primeiro disco de ouro e é uma das mais influenciadoras canções da historia do rhythm and blues e do rock and roll. Desde 1959 até o fim da sua carreira, Ray Charles sempre encerrou os seus shows com What I’d say. É a música número 10 do ranking da revista Rolling Stone das 500 maiores canções de todos os tempos.


Quando compôs a música, Ray Charles tinha 27 anos e 10 anos de experiencia no mundo da música, onde gravou primeiramente músicas de rhythm and blues para selos menores, num estilo parecido com Nat King Cole e Charles Brown. Então Ray assinou com a Atlantic em 1954, onde os produtores Ahmet Ertegun e Jerry Wexler incentivaram Ray a abrir mais o seu repertório.


Wexler lembraria mais tarde que o approach que deu certo com Charles era justamente deixar ele fazer o que ele queria no estúdio.  


Entre 1954 e 1960, Ray Charles fazia uma media de 300 shows por ano, com uma orquestra de 7 músicos. Ele contratou um trio também empregado da Atlantic chamado The Cookies e chamou-os de The Raelettes, e levou-os pra estrada.  

What I’d say foi uma exceção, porque ele nunca havia testado uma canção antes com o publico e nunca mais testou outra. O show em que ela foi tocada pela primeira vez a partir de uma improvisação foi em Brownsville, Pennsylvania. Como tinha tempo sobrando, Ray Charles avisou às Raelettes que iria brincar um pouco e que elas apenas o seguissem.


A música começa com o piano elétrico e Ray Charles então toca uma série de riffs, alternando-os para uma serie de piano normal, tendo o apoio de uma conga. A canção muda quando Ray começa a cantar os versos simples, improvisados e sem conexão. “Hey mama don’t you treat me wrong/Come and love your daddy all night long/All right now/Hey hey/All right”.

A estrutura da música possui elementos de gospel montada numa base de 12 bar blues. Algumas frases como “The girl with the red dress on/She can do the Birdland all night long” foram influenciadas por Clarence “Pinetop” Smith, oriundo do boogie-woogie, que usava essas frases pra falar com pessoas da plateia.

No meio da canção, Ray Charles pede pra as Raelettes repetirem o que ele estava fazendo, e a canção fica no estilo pergunta e resposta entre Charles, as Raelettes e parte de sopro da orquestra. A plateia ia ao delírio. E perguntavam onde podiam comprar o disco com aquela música. Charles que não é bobo, ligou pra Jerry Wexler e pediu pra grava-la.

E gravaram-na apenas em 4 takes, ao vivo com a banda, sem overdub. O estúdio da Atlantic que eles estavam era pequeno e o equipamento o mais moderno do mercado e o som ficou tão claro que dava pra ouvir Charles batendo na perna em alguns momentos pra marcar o tempo. Isso era em 1959, não se esqueça.

Ray Charles disse que não gostava de analisar as suas próprias canções, mas que se alguém não entendesse What I’d say, então algo estava muito errado com você. Ou então você não era acostumado com os doces sons do amor. 

Como ficou grande, foi lançado um compacto simples com What I’d say part 1 no lado A e What I’d say part 2 no lado B. distribuidores queriam o disco de todo jeito, mas as rádios não estavam querendo tocar.

Em Julho de 1959, a música chegou ao número 82 dos charts populares. Uma semana depois, chegou a 43 e então e 26. Poucas semanas depois, chegou ao numero 1 dos charts de rhythm and blues e numero 6 nos charts pop. Foi a música que mais vendeu na Atlantic Records em todos os tempos.  

A musica foi banida de varias rádios, brancas e negras, por causa da sugestão erótica das letras e por causa da mistura entre gospel e rhythm and blues do ritmo irritou principalmente os negros. Eles não queriam que a musica gospel chegasse aos brancos. Nos shows depois disso, quase todas as vezes haviam protestos dos negros e o pau cantava. 

A musica é sexy, boa pra dançar, era tocada em todas as festas e iniciou muitos romances. George Harrison disse que foi a uma festa em 1959 na Inglaterra que a musica tocou 8 horas seguidas. Ele achou que era a melhor musica já gravada até então. E passaram a tocar nos shows dos Beatles em Hamburgo.

John Lennon disse que tentou copiar a introdução da musica na guitarra e disse que a introdução de Charles em What I’d say foi a mãe de todas as introduções feitas com riffs de guitarra. Quando Mick Jagger tocou pela primeira vez com os caras que formariam os Rolling Stones, ele cantou What I’d say. A música foi o gatilho que fez com que Eric Burdon, Steve Winwood e Brian Wilson entrassem pro negocio da música. E claro, todos eles tocavam What I’d say nos shows deles.  

What I’d say foi a primeira canção de Soul da historia, que depois iria gerar ídolos como James Brown e Aretha Franklin. O publico esperava novos ídolos. Elvis Presley estava no exercito, Buddy Holly e Eddie Cochran haviam morrido, Chuck Berry estava na cadeia e Jerry Lee Lewis estava em desgraça e banido pela imprensa porque casou com uma prima de 13 anos de idade.

Assim, Ray Charles com sua música que era mistura de gospel e rhythm and blues, entrava nos trilhos abertos do rock and roll e arranjou um lugar por lá. Juntando o gospel (que era o domingo de manhã na igreja do fiel) e o rhythm and blues (do pecador do sábado à noite), Charles uniu o prazer físico com a iluminação divina, fazendo-os parecer a mesma coisa.

Foi regravada por inúmeros artistas, entre eles Elvis Presley no filme Viva Las Vegas, de 1964 e lançando um compacto simples no mesmo ano. Cliff Richard também gravou, assim como Eric Clapton com John Mayall and The Bluesbreakers. Eddie Cochran, Bobby Darin, Nancy Sinatra, Sammy Davis Jr. e Johnny Cash foram alguns artistas que regravaram esse enorme sucesso.

Jerry Lee Lewis chegou ao numero 30 nos charts populares em 1960 com a sua regravação de What I’d say.

Charles reclamou que depois que alguns artistas brancos gravaram a musica, algumas estacões de rádio que haviam banido a canção, passaram então a toca-la. Charles então pensou que o sexo entre os brancos era puro e entre os negros era algo sujo, na cabeça dos donos das rádios. Mas no final, o ban foi suspenso e passaram também a tocar a original, o que foi bom pra ele também.

Essa historia foi tema de um programa de TV, Saturday Night Live, em 1977. Uma banda branca gravou a musica no episodio e depois que Charles gravou, o produtor diz que a canção não ficou boa, numa clara alusão ao racismo que aconteceu na vida real.

Quando Charles toca a canção no show, é o fim. Não vai ter mais nem encore, nada. Ele se acaba. Em 2000, entrou como numero 43 das 100 maiores canções do rock and roll, da VH1 e numero 96 das 100 maiores musicas pra dançar, sendo a mais velha delas.

No mesmo ano, foi eleita pela Rádio Publica Nacional como uma das 100 mais influentes canções do século 20. A Livraria do Congresso adicionou What I’d say ao Registro Nacional em 2002. E o Rock and Roll Hall of Fame incluiu a canção como uma das 500 canções de deram forma ao rock and roll.

A letra:


Hey mama, don't you treat me wrong,
Come and love your daddy all night long.
All right now, hey-hey, all right.

See the girl with the diamond ring,
She knows how to shake that thing.
All right now, now, now, hey-hey, hey-hey.

Tell your mama, tell your pa,
I'm gonna send you back to Arkansas.
Oh, yes, ma'am. You don't do right,
Don't do right.

When you see me in misery,
Come on, baby, see about me.
Now, yeah-yeah, all right,
All right, aw, play it, boy.
Instrumental break featuring Ray on the piano.

When you see me in misery,
Come on, baby, see about me.
Now, yeah, hey-hey, all right.

See the girl with the red dress on,
She can do the Birdland all night long.
Yeah-yeah, what I say, all right.

Well, tell me what I say, yeah.
Tell me what I say, right now.
Tell me what I say.
Tell me what I say, right now.
Tell me what I say,
Tell me what I say, yeah.

And I wanna know,
Baby, I wanna know right now.
And a-I wanna know,
Bary, I wanna know right now, yeah.
And a-I wanna know,
Said, I wanna know, yeah.

Band members all speak at once.
Ray speaks:
What? What's that?
Hey, don't quit now! C'mon honey.
Naw, I got, I uh-uh-uh, I'm changing.
Stop! stop! we'll do it again.
Wait a minute, wait a minute.
Oh, hold it! Hold it! Hold it!
The above ad-lib changes from recording to recording.

Unh (Unh), oh (oh).
Unh (Unh), oh (oh).
Unh (Unh), oh (oh).

Wohhhhh! One more time.
(Just one more time.)
Say it a-one more time, right now.
(Just one more time.)
Say it a-one more time, now.
(Just one more time.)
Say it a-one more time, yeah.
(Just one more time.)
Say it a-one more time.
(Just one more time.)
Say it a-one more time, yeah.
(Just one more time.)

Unh (unh), hoh (oh).
Hunh (hunh), hoh (hoh).
Hunh (hunh), hoh (hoh).

Ahhh! Make me feel so good.
(Make me feel so good.)
Make me feel so good now, yeah.
(Make me feel so good.)
Woah! Baby.
(Make me feel so good.)
Make me feel so good, yeah.
(Make me feel so good.)
Make me feel so good.
(Make me feel so good.)
Make me feel so good, yeah.
(Make me feel so good.)

Unh (unh), hoh (oh).
Hunh (hunh), hoh (hoh).
Hunh (hunh), hoh (hoh).

Ohhhh! It's all right.
(Baby, it's all right.)
Said, a-it's all right, right now.
(Baby, it's all right.)
Said, a-it's all right.
(Baby, it's all right.)
Said, a-it's all right, yeah.
(Baby, it's all right.)
Said, a-it's all right.
(Baby, it's all right.)
Said, a-it's all right.
(Baby, it's all right.)

Woah! Shake that thing, now.
(Baby, shake that thing.)
Baby, shake that thing, now, now.
(Baby, shake that thing.)
Baby, shake that thing.
(Baby, shake that thing.)
Baby, shake that thing, right now.
(Baby, shake that thing.)
Baby, shake that thing.
(Baby, shake that thing.)
Baby, shake that thing.
(Baby, shake that thing.)

Woah! I feel all right, now, yeah.
(Make me feel all right.)
Said, I feel all right, now.
(Make me feel all right,)
Woooah!
(Make me feel all right,)
Tell you, I feel all right.
(Make me feel all right.)
Said, I feel all right.
(Make me feel all right.)
Baby, I feel all right.
(Make me feel all right.)

Ray Charles ao vivo em São Paulo, em 1963:


 
Ray Charles ao vivo em 2000, no Olympia:



Ray Charles ao vivo em Tokyo, Japão, em 1982:

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